06/10/2010

Portugueses querem é "príncipes" e princesas

Numa altura em que se comemora o Centenário da República Portuguesa (o qual perde em espectacularidade para o Centenário do Sport Lisboa e Benfica), Informação ao Contrário decidiu tomar o pulso à opinião que os portugueses têm sobre o regime em vigor. Como tal, optámos por sair à rua e indagar os cidadãos. Isto é, deslocámo-nos ao snack-bar "O Passarinho" e enquanto esperávamos pelos pregos à Pato Milanês (especialidade da casa altamente recomendada) e bebericávamos os "príncipes", escutámos com atenção as conversas, plenas de comentários, afirmações e ideias sempre pertinentes dos clientes d'O Passarinho. Eles sim, o verdadeiro povo. 


Prego à Pato Milanês, uma das iguarias
 d'O Passarinho.
Orlando Tomé e Olímpio Santos são ambos reformados, andam na casa dos 70 anos e entretêm-se a jogar ao dominó. Sobre a república pouco têm a dizer. "Olhe, uma valente merda, é o que é. Tá tudo igual. Não mudou nada. Era uma merda antes, é uma merda agora" atira Olímpio. "Isto fazia cá falta outro Salazar. Com ele isto ia andar tudo na ordem", acrescenta Orlando, enquanto esconde uma peça na manga do casaco sem que o adversário se aperceba. 


De Chico Zé, espera-se uma opinião diferente. De uma geração mais nova, pós-25 de Abril, o jovem de vinte e tantos não parece ter opinião formada sobre a república, "A república? Qu'é isso? Não são aquelas casas de estudantes? Lá em Coimbra é que havia disso". Explicado o equívoco, o jovem devolve um "Ah... disso não percebo nada, mas acho que tem que ver com o Salazar, né?". Desfeito novo equívoco na cabeça do jovem, perguntamos se sabe quem foi o primeiro Presidente da República e o último rei de Portugal. Resposta pronta: "O primeiro presidente foi o Salazar, agora o rei... (pausa) só me lembro do Eusébio". É assim que responde este licenciado em Comunicação no desemprego. 


"O Passarinho", local emblemático

 de debates e tertúlias.
Já Dona Olarinda, esposa de Tó Águia, parece ser fervorosa opositora dos ideais republicanos, preferindo a monarquia. Questionada sobre a razão desta escolha, D. Olarinda confessa "Ó menino, então não era muito melhor se tivéssemos principes e princesas? E reis e rainhas? Não vês as revistas? Elas todas lindas naqueles vestidos. E depois metem-se com outros que não são principes e arranjam pr'ali com cada tourada! Eu gosto de ler essas coisas. Por isso é que acho que devíamos ter reis." 


"Vá, agora pouco barulho que vai dar a repetição do Benfica-Farense de 85 e eu quero ver, sossegado, o golo do Águas, por isso acabou essa merda de andarem para aqui a fazer perguntas" interrompeu-nos assim um ameaçador Tó Águias, enquanto colocava os pregos à Pato Milanês em cima da mesa. 


Na comemoração do centésimo aniversário da República, ficámos com uma certeza. Para os portugueses, desde que haja bola, jogos, comida, bebida e "circos cor-de-rosa" tanto lhes dá se vivem numa monarquia, numa república, numa ditadura ou até mesmo em plena anarquia. Até porque, sejamos honestos, a grande maioria nem sabe explicar as diferenças entre cada uma. E que grande golo, o do Águas!

Sem comentários: